Escolas de análise para TRADING

A análise fundamentalista e a grafista

Existem basicamente duas grandes escolas de análise para atuar nos mercados de renda variável: a escola fundamentalista (clássica) e a escola técnica (grafista).

Análise fundamentalista

Sua lógica é que os preços praticados no mercado devem refletir o desempenho da empresa em questão. Portanto, é mais importante estudar os aspectos fundamentais da empresa, como sua saúde financeira, indicadores, variáveis diversas, etc., do que tentar prever os comportamentos dos preços.

É importante ressaltar a diferença entre preço e valor. Preço é o que é praticado no mercado e é amplamente divulgado. Todos sabem o preço de um ativo. O preço é a cotação. O valor já é uma noção mais subjetiva e, muitas vezes, distante do preço. O valor representa a real representação de riqueza de um ativo, enquanto que o preço é simplesmente o reflexo monetário da disposição momentânea dos participantes em negociar esse ativo. Conseguir auferir o valor (preço justo) de um ativo é uma tremenda vantagem competitiva, pois permite ao investidor um referencial de preço para saber se algo está caro ou está barato.

Esse método é dito “de fora para dentro”, porque primeiro se busca a mensuração do que seria o preço justo para o ativo e depois se vai até o mercado para ver o preço em que esse ativo está sendo negociado. Daí que surgem as oportunidades de comprar abaixo do preço justo e vender acima ou no preço justo.

As ferramentas para fazer essa mensuração de preço justo são várias, e elas não vão deixar de ser também bastante subjetivas, pois dependem de uma série de suposições sobre o futuro da empresa e da economia. Esse investidor tentará reduzir seu risco através da diversificação, pois é um tanto contraditório comprar uma ação por achá-la barata e vendê-la porque seu preço caiu ainda mais.

Críticas

A análise de fundamentos é de extremo valor, principalmente quando o horizonte de tempo do investimento é longo ou quando o ativo em questão possui baixa liquidez. Ativos de baixa liquidez só podem ser avaliados por fundamentos.

A principal fragilidade desse tipo de análise é o fato de que não existe segurança de que temos todas as informações que importam  sobre um ativo para poder analisá-lo, nem de que as informações que temos são precisas. Recentemente, tivemos diversas empresas brasileiras com perdas bilionárias em seus balanços advindas de operações alavancadas com câmbio. Em nenhum momento, os acionistas foram informados sobre tais operações nem sobre o risco que representavam.

Análise técnica ou gráfica

A análise técnica, ao contrário, é uma abordagem restrita ao que acontece aos preços, prestando nenhuma atenção ao que acontece fora dos pregões. A análise técnica está focada em captar as alterações de oferta e demanda, pois, se timing resume o mercado, são as alterações de oferta e demanda que criam o timing!  Segue alguns entendimentos :

Os gráficos descontam tudo

O analista gráfico capta alterações no mercado através de um único instrumento: o gráfico. Ele sabe que, individualmente, ele nunca saberá todas as informações relevantes para a precificação de um ativo, mas ele entende que todas essas informações estão disponíveis no próprio mercado, dispersas entre todos os participantes.
O preço é a síntese da opinião e do conhecimento de todos e, portanto, deve refletir o melhor julgamento sobre o real valor de um ativo dadas as circunstâncias do momento, incluídos aí, também, os aspectos emocionais. Para o grafista, não há preço justo.
Através das alterações de preço, consegue-se identificar situações de maior demanda ou de maior oferta, além de sinais de mudança nesse equilíbrio.

O passado pode sim ajudar a antecipar o futuro

Levados por motivos vários, um ativo marcará topos e fundos através de suas oscilações. Cada um desses patamares de virada de preço tocará a memória dos que participaram desse momento – tanto na memória das que conseguiram interpretar o movimento corretamente e ganharam dinheiro como também daqueles que erraram na interpretação e que, certamente, não estão dispostos a repetir o erro. Por isso, quando o mercado retorna para esses patamares, a memória dos participantes os impele a tomar a atitude que condiz com a postura correta das ocorrências anteriores. A análise técnica, através dos gráficos, tenta identificar esses pontos de
memória e atuar de forma a se beneficiar dessa dinâmica.

O mercado se movimenta seguindo padrões

Em geral, os preços se movimentam de forma bastante caótica. Mas, através do estudo dos históricos de movimentação de preço, consegue-se compreender um pouco melhor como o mercado se movimenta, e isso nos leva à identificação de padrões de movimento que nos permitem antecipar movimentos e objetivos mais prováveis. Esses padrões reaparecem nos gráficos de tempos em tempos, gerando boas oportunidades de lucro.

Críticas

A abordagem grafista é extremamente útil, pois ela consegue, de forma bastante eficiente, identificar viradas de mercado. Sua abordagem é abertamente especulativa e possui um melhor desempenho em trades curtos e em mercados de grande liquidez. Sua natureza, porém, tende a estimular o overtrading, que é um péssimo hábito nos mercados.

Muitas críticas se fazem contra a análise técnica. Uns acusam a análise técnica de ser displicente por ignorar fundamentos, mas ela não ignora. Ela lê os fundamentos nos gráficos como um reflexo das atitudes daqueles que realmente se guiam apenas por fundamentos. Outros levantam o fato de que dificilmente veremos os grandes fundos ou players atuando em cima da análise
técnica. Isso é verdade. Mas isso decorre do fato de que grandes somas de capital não encontram mobilidade de curto prazo nos mercados, pendendo sempre para posicionamentos mais longos, os quais se encaixam melhor com análise de fundamentos. Essas grandes somas de capital são como transatlânticos dos mares financeiros. Nós, no entanto, somos como pequenas lanchas. Temos
uma mobilidade maior, que nos permite nos beneficiarmos dos movimentos mais curtos.

Finalmente, a análise técnica é mais acessível ao pequeno investidor que a análise de fundamentos. A segunda requer conhecimentos específicos e tempo para pesquisas e cálculos. A análise técnica é bem mais simples e acessível. Infelizmente, essa acessibilidade faz com que diversas pessoas se intitulem analistas técnicos, mesmo que pouco entendam de mercado e que, no fim,
exibam conhecimento e técnicas medíocres, que não condizem com um profissional dedicado.

Sinergias e incompatibilidades

A utilização das duas abordagens em conjunto pode ser perigosa, pois, se o trader inicia uma operação em cima de um sinal gráfico e, logo depois, o mercado dá sinal de saída no prejuízo, se os fundamentos forem bons, ele ficará tentado a permanecer no trade. Isso é muito comum e acaba levando o trader a permanecer no papel quando o gráfico começa a precificar uma deterioração dos fundamentos. As análises não devem se misturar no meio do caminho.

Uma forma mais inteligente de misturar ambas é determinar com a análise de fundamentos quais são os papéis que têm maior potencial de alta, e com a análise técnica buscar os melhores pontos de entrada e saída. Mas isso faz com que cresça a tentação de segurar o papel. Além disso, se um papel tem fundamentos ruins, o próprio gráfico já estará descontando isso e, portanto, não deve ser um problema.

RELEMBRE :
  • A análise técnica se sustenta nos seguintes entendimentos:
  • Os gráficos descontam tudo
  • O passado pode sim ajudar a antecipar o futuro
  • O mercado se movimenta seguindo padrões.

Aspectos importantes sobre trading

Agora que você já compreende um pouco mais sobre como o mercado nos atrai e quais são as escolas às quais podemos recorrer para dominá-lo, é bom que esteja ciente de mais algumas noções importantes – caso você realmente pretenda operar.

Não existe almoço grátis

É fundamental entender que investir em renda variável significa aceitar o risco de perder para ganhar. Obviamente, busca-se um risco que valha a pena. Aceitamos o risco de perder desde que o retorno potencial seja maior ou pelo menos muito mais provável. De qualquer forma, o risco de perder estará sempre presente.
Por isso, acostume-se com a ideia de que, em vários momentos, prejuízos irão ocorrer. Isso é normal na atividade de trading. O que fica ao alcance do investidor são regras e métodos para administrar esse risco, de forma que ele seja sempre controlado e aceitável.

A curva de aprendizado

Não será de um dia para o outro que estaremos plenamente aptos a operar. Existe uma curva de aprendizado, e a compreensão de sua existência é importante para que não nos frustremos desnecessariamente. É normal que as pessoas venham ao mercado buscando lucros imediatos, mas esse não deve ser o objetivo principal. Nessa fase inicial, faltam-nos ainda muito conhecimento e percepção
sobre o mercado para que consigamos lucrar com consistência. Essa é uma fase em que devemos objetivar o aprendizado através dos erros que, inevitavelmente, virão.
Se buscarmos o lucro de cara, provavelmente iremos nos frustrar, pois talvez ele não venha. Podemos dizer que nosso objetivo no primeiro ano – ou dois anos – é não perder. Pelo menos, não perder demais. Geralmente, esse é o tempo que se leva para passar pela parte mais íngreme da curva de aprendizado. Alguns terão um pouco mais de sorte e conseguirão, já de início, resultados positivos, mas essa não é a regra geral. Uns têm mais facilidade que outros, mas todos têm potencial.

Saberemos que passamos pela fase mais íngreme da curva de aprendizado quando não nos sentirmos mais tão ansiosos com os nossos trades; quando, além de conseguir visualizar o mercado de uma forma mais ampla, soubermos quais são as nossas reações frente aos movimentos dos preços. Assim, teremos chance de combater as atitudes nocivas ao nosso capital. Isso vem com a experiência. Mas, acima de tudo, perceberemos que já estamos aptos quando os resultados começarem a aparecer de forma consistente – e não desordenada. Esse é o sinal de que chegamos a um nível inicial de maturidade, e, daí para frente, nosso desempenho tende apenas a melhorar.

Preservar capital

A preservação de capital é o objetivo primeiro de todo o trader. E essa noção costuma vir só depois de algum tempo de experiência. Devemos preservar nosso capital a todo custo, pois só quem tem capital consegue lucrar. Costumamos nos preocupar muito com o lucro, mas, na realidade, deveríamos estar preocupados em preservar nossa ferramenta de trabalho: nosso capital.
Essa é uma orientação que deve ser seguida no sentido de cortar as perdas rapidamente e, também, de aceitar alguns ganhos rapidamente quando o mercado permitir. Aprenda, desde cedo, a realizar parcialmente os ganhos de forma a neutralizar perdas oriundas de possível viradas de mercado. O novato tende a ir para o tudo ou nada, buscando grandes acertos. O tempo ensinará que, na maioria das vezes, ficaremos com o nada nessa estratégia.
Não discuta com suas regras de manejo de risco. Siga-as. Não reconsidere stops, sempre será uma má ideia. Aprenda, desde cedo, que a única forma de manter-se vivo no mercado é sendo fiel ao manejo de risco e aos stops. Não exija estratégia que seja 100%. Podemos acertar nove em dez vezes na média. Mas, um dia, sem sombra de dúvida, ocorrerá uma situação em que erraremos dez em dez. Esses eventos são mais comuns do que a estatística probabilística costuma considerar.

O canto da sereia

O canto da sereia é a forma simbólica de se referir à capacidade do mercado de nos tirar de centro e nos levar a cometer atitudes nocivas ao nosso capital. O mercado nos acenará com altas e baixas impressionantes e nos deixará pensando em como não as aproveitamos, assumindo ingenuamente que teria sido fácil. Nós temos a tendência de superestimar nossa capacidade de lidar com as situações das quais não participamos. E superestimamos também a capacidade dos outros, a ponto de acreditar que o desempenho alheio é muito melhor que o nosso. Às vezes, até pode ser, mas, dentro de um universo enorme de pessoas, sempre haverá as pessoas fora da média.
Isso pode nos levar a sentimentos de frustração com nós mesmos e com o nosso desempenho. Passaremos a buscar objetivos irreais, apostando cada vez mais alto e nos arriscando muito além do que seria prudente. Colocaremos nosso emocional sob um estresse insuportável, tentando tapar buracos com apostas ainda mais altas, e, quando as coisas derem realmente erradas, nos veremos sem ação num beco sem saída.

Um trader jamais pode se deixar chegar a esse ponto. Não podemos arriscar nosso desempenho de anos ou meses num descontrole emocional. Portanto, siga as regras. Aceite que nossa fortuna será feita aos poucos, dentro das oportunidades plausíveis que o mercado oferece ao longo do tempo.

Quanto esperar de rentabilidade

Essa talvez seja uma das questões mais pertinentes. Obviamente, não existem garantias de rentabilidade, e essas podem variar muito de pessoa para pessoa e de mercado para mercado. Mas o que consideramos plausível e o que buscamos é algo que fique entre 3% a 5% ao mês. É isso que a experiência nos prova ser possível.
É claro que haverá meses de rentabilidade negativa, outros medíocres e outros fantásticos. Mas o trader mais experiente irá conseguir algo mais ou menos estável dentro dessa faixa. Uma rentabilidade de 3% ao mês significa um retorno anual de 42,57%, o que é excelente.
É importante lembrar que é mais fácil auferir boas rentabilidades com capitais menores. Isso se dá pela questão de maior mobilidade e menor pressão emocional. Aqueles que têm pouco a perder podem, por se sentir mais confortáveis, assumir riscos maiores. Mas, conforme o capital cresce, a pressão aumenta, a mobilidade diminui, e a rentabilidade fica mais difícil. Uma abordagem mais conservadora costuma ser adotada nesses momentos.

O pulo do gato

Se é que existe algum pulo do gato no mercado, poderíamos dizer que são dois. O primeiro já vimos: é a preservação de capital. O segundo, diríamos, é saber a hora de parar. Não é difícil auferir uns 3% de rentabilidade ou mais na carteira. O difícil é preservar essa rentabilidade. Isso ocorre porque, quando as coisas dão certo, tendemos a ficar eufóricos e a querer operar mais.

Temos dificuldade de compreender o lucro ganho como capital nosso e, por isso, nos permitimos, muitas vezes, uma exposição maior que a normal, visto que estamos apenas arriscando o lucro que obtivemos – e não nosso principal.

Além disso, o mercado não oferece boas oportunidades o tempo inteiro. Quando realizamos uma série de trades vencedores, é porque provavelmente acabamos de passar por uma. Dificilmente, o mercado estará, logo em seguida, oferecendo oportunidades tão boas quanto, mas, na ânsia de operar, vamos “cavar” operações. Mesmo que as estopemos corretamente quando dão errado, uma a uma elas irão consumir o nosso lucro acumulado.
Estabeleça meta e a respeite. Se sua meta é 3% ao mês, ao alcançá-la, você pode parar de operar pelo restante do mês. Ou, pelo menos, irá operar somente se uma oportunidade muito boa surgir. E, ainda assim, opere pequeno, se for o caso – pois é muito mais provável que venha a devolver parte dos lucros do que ter um mês de rentabilidade excepcional.

Foque-se no seu desempenho

Quanto àquele sujeito que nada sabe de mercado e que pode exibir um excelente retorno na carteira, devemos retornar às primeiras páginas desta apostila. Quem não sabe por que entrar, não sabe por que sair. Lucro só é lucro quando realizado. Provavelmente, esse sujeito simplesmente comprou e deixou lá comprado. Será que ele terá a sorte de saber exatamente quando cair fora? Quantas pessoas puderam exibir excelentes desempenhos entre 2005, 2006 e 2007 para, em 2008, devolver tudo o que ganharam nos últimos três anos? Acredite, foi a maioria. 

O trader técnico se destaca nos momentos ruins de mercado. Quando o mercado sobe, tentamos acompanhá-lo. Quando o mercado cai, tentamos nos abster desse momento ruim. Se nos sentirmos confortáveis para operar na ponta vendedora, um novo mundo de possibilidades de ganho se abrirá perante a nós, e poderemos nos destacar ainda mais.

Foque-se no seu desempenho, em atingir objetivos realistas a que você se propõe. Esqueça o que alguém pretensamente conseguiu ou quanto o mercado se movimentou. Você sabe de suas metas e aonde elas o levarão.

A recompensa não-financeira

A atividade de operar oferece uma recompensa que vai além da financeira. O mercado proporciona um desafio intelectual único. É uma atividade que nos coloca em constante situação de superação. Lucrar na bolsa é um exercício de autocontrole e autoconhecimento que, com o tempo, nos moldará como melhores indivíduos, e isso certamente também nos trará satisfação pessoal.